sexta-feira, 6 de julho de 2012

Súplica!


Súplica - Miguel Torga


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

> Painting by Thiago Castro

Quando pensamos que as coisas não podem piorar com Passos Coelho consegu...

terça-feira, 3 de julho de 2012

A GERAÇÃO PERDIDA!

A geração perdida

Os enfermeiros que começaram a trabalhar ontem nos centros de saúde de Lisboa e que foram contratados por empresas de prestação de serviços - o Estado arranja forma de, ele próprio, ludibriar a lei laboral, socorrendo-se de empresas negreiras - receberão 4 euros por hora.

Centenas de bolseiros que trabalham em laboratórios e universidades do Estado estão há meses com as suas bolsas em atraso. Os bolseiros de doutoramento receberam o mês de Julho com atraso. Uns e outros estão, com muitas raras exceções, proibidos de ter qualquer outra fonte de rendimento. Têm de viver do ar ou com a ajuda dos pais, se eles lhes conseguirem valer.

Poderia continuar. Os estágios não pagos em várias profissões qualificadas. A forma como as empresas de trabalho temporário transformam a desgraça de milhares de jovens numa excelente oportunidade de negócio. Mas tudo se resume a isto: andámos a gastar dinheiro em formação para mandar embora os jovens mais qualificados que alguma vez este País conheceu. A isto chama-se desperdício. E não, não temos, como muita gente julga, "doutores" a mais. Olhem para a Europa. Temos "doutores" a menos. O problema é que a maioria das nossas empresas não foi capaz - por culpa própria ou pela estratégia económica dos sucessivos governos - de aproveitar esta oportunidade.

Um jovem qualificado português tem duas possibilidades: ou vive às custas dos pais nos primeiros anos de carreira (se os pais o puderem ajudar), paga para trabalhar e aceita adiar o começo da sua vida para um passado distante, ou emigra e vem cá no Verão. Se fizer a primeira escolha, pior para ele. Se fizer a segunda, pior para nós.

Recentemente, um jovem deputado do CDS, com 29 anos, estudante veterano e sem nenhum currículo que não seja o de deputado, disse, sobre o jovem português: "fatalmente, vai cada vez mais criar o próprio emprego e não andar à procura na indústria ou noutros sectores". Foi isso que fez no CDS e justamente ficou com a pasta do empreendedorismo. Não desenvolvo mais sobre esta maravilhosa frase do felizmente obscuro "jotinha" Michael Seufert, que tem como principal solução para o desemprego dos jovens que estes deixem de descontar e receber da segurança social. Apenas isto: nenhum país vive exclusivamente de empresas unipessoais. Nenhum país dispensa técnicos especializados que podem não ter especial talento para os negócios, mas sem os quais os negócios não vão longe. Compreendo que estes empreendedores teóricos - como o nosso primeiro-ministro - não consigam passar das frases feitas, dignas dos artigos de auto-ajuda profissional. Mas ou começamos a ser governados por quem queira aproveitar a melhor de todas as gerações, ou espera-nos um futuro sombrio.

Como é possível algum tipo de "empreendedorismo" se os melhores se forem embora? Como esperam vencer a nossa crise demográfica se os jovens viverem na mais absoluta das precariedades? Como esperam que eles garantam uma boa formação para si e para os seus filhos, se cometerem a loucura de os ter, a receberem 4 euros por hora? Como será a nossa velhice se, para viverem, os nossos filhos dependerem da ajuda das nossas magras reformas? Enfim, como poderá esta sociedade ser sustentável se continuarem a esmifrar até ao tutano uma geração que se preparou para o desenvolvimento de um País que decidiu regressar ao século XIX?

Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Terça feira, 3 de julho de 2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

SOMENTE A OBSERVAR!

Gina DUARTE nous écrit....
Here is a photo I took at City Lights Bookstore in San Francisco in 2010. Please post it to your wonderful page if you like it!

domingo, 24 de junho de 2012

CORAÇÃO DOIDO...

Imagem de F.Viriato.
CORAÇÃO DOÍDO

Estou doente!
Nem um remédio me cura!
Coração reclama a dor que sente...
Solidão, tristeza, amargura...

Essa dor que é infinita,
Um dia não posso agüentar...
Olhos rasos d’água são bica!
Afogo-me no meu próprio mar...

Coração que bate, não sente...
A dor que está por vir!
O amor não brota de repente!
Quando vem não quer sair...

Nasce o sol, nasce a lua!
Brota no peito saudades sua...
Quando a gente ama, é duro o sofrer!
Rolando na cama imaginando você...

A saudade bate na velocidade da imaginação...
É dolorida e faz parte!
Quando no corpo, é uma ferida...
Dói e machuca o coração


(A:D:)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Chove. Há Silêncio Chove.

Chove. Há Silêncio Chove. 
Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"